O que é classicismo? Como surgiu, autores e características

Escultura clássica de David de Michelangelo, representando o ideal estético do classicismo, movimento artístico cultural focado em harmonia e perfeição.

O Classicismo foi um movimento cultural e artístico que marcou a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna, inspirando-se nos valores e modelos da Antiguidade greco-romana. 

Esse período não trouxe apenas uma nova forma de fazer arte e literatura, mas também um jeito renovado de ver o mundo, onde a razão, a ciência e o homem ganharam destaque. 

Entenda a seguir como o Classicismo se formou, suas principais características, e os autores que deram vida a esse importante movimento.

Contexto histórico do surgimento do classicismo

O Classicismo surge em meio a profundas transformações na Europa do século XV. Este é o início da Idade Moderna, onde os avanços científicos e as descobertas geográficas abrem as portas para um novo entendimento da realidade. Durante a Idade Média, a Igreja Católica era a principal autoridade social e religiosa, impondo uma visão teocêntrica (Deus no centro do universo) que dominava as crenças e comportamentos. No entanto, com o avanço do humanismo, a visão teocêntrica começou a ser questionada.

Esse movimento de questionamento começou na Itália, no período conhecido como Renascimento, e espalhou-se por toda a Europa. O humanismo, que coloca o homem no centro da vida (antropocentrismo), trouxe novas perspectivas para as ciências, as artes e a filosofia

Com a valorização da razão e da lógica, o Classicismo buscou inspiração nos valores do equilíbrio e da harmonia típicos da cultura greco-romana.

As grandes navegações, a invenção da imprensa por Gutenberg, a Reforma Protestante liderada por Martinho Lutero e o desenvolvimento da astronomia com Galileu Galilei e Copérnico são apenas alguns dos acontecimentos que tornaram o cenário europeu propício para essa explosão cultural. Foi um período em que o homem começou a ver a si mesmo como um ser capaz de compreender e modificar o mundo à sua volta.

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Características do Classicismo

O Classicismo trouxe uma série de características que refletiam tanto a busca por harmonia e racionalidade quanto a valorização dos modelos clássicos. Conheça algumas das principais:

  • Antropocentrismo: o homem é colocado como o centro do universo, em oposição ao teocentrismo medieval;
  • Humanismo: influência do humanismo renascentista, que valoriza a capacidade racional e as emoções humanas;
  • Racionalismo e Cientificismo: buscam entender o mundo com base na razão e na observação empírica, promovendo o desenvolvimento científico;
  • Universalismo: o Classicismo prega valores e temas universais, presentes em diferentes culturas e épocas;
  • Equilíbrio e Harmonia: elementos centrais nas obras clássicas, visando o rigor estético e a perfeição formal;
  • Objetividade e Clareza: preferência por uma linguagem direta e lógica, evitando excessos e subjetividades;
  • Valorização da Mitologia Greco-romana: utilização frequente de referências à mitologia, que representam temas universais e simbólicos;
  • Ideal Platônico: busca pela beleza ideal, perfeição e moralidade nas obras de arte e literatura.

Esses princípios eram expressos em diversas formas de arte, especialmente na literatura, onde o soneto, com sua estrutura formal rígida, se tornou um dos principais gêneros.

Principais autores e suas obras do Classicismo 

Vários autores e suas obras tornaram-se ícones do Classicismo, imortalizando valores e estilos desse período:

  • Luís de Camões (Portugal): “Os Lusíadas”
  • Miguel de Cervantes (Espanha): “Dom Quixote”
  • Dante Alighieri (Itália): “A Divina Comédia”
  • Francesco Petrarca (Itália): “Canzoniere” (ou Cancioneiro), que introduziu o soneto.
  • Giovanni Boccaccio (Itália): “Decamerão”

Esses autores, influenciados pela filosofia humanista, escreveram obras que exploravam temas universais, como o amor, a moralidade e a condição humana, oferecendo novas perspectivas sobre o mundo.

Classicismo em Portugal

Em Portugal, o Classicismo floresceu entre os anos de 1537 e 1580, consolidando-se através da poesia e de obras que exploravam o ideal humanista. Francisco Sá de Miranda e Luís de Camões são dois dos principais autores do Classicismo português, e suas produções marcam momentos distintos desse movimento.

Sá de Miranda

Francisco Sá de Miranda é considerado o precursor do Classicismo em Portugal. Ele introduziu novas formas poéticas, como o soneto, as oitavas rimas e as décimas, revolucionando a literatura portuguesa. 

Inspirado pelo humanismo italiano, ele trouxe o conceito de “dolce stil nuovo” (Doce Estilo Novo), um estilo poético que valorizava a perfeição formal, a harmonia e a clareza. Essa abordagem influenciou uma geração de escritores portugueses que buscavam na poesia um meio de expressar as virtudes clássicas do equilíbrio e da beleza idealizada.

Luiz Vaz de Camões

Luís de Camões é o principal nome do Classicismo em Portugal e um dos poetas mais renomados da língua portuguesa. Sua obra “Os Lusíadas” (1572) é uma epopeia que celebra as conquistas marítimas portuguesas, particularmente a viagem de Vasco da Gama à Índia. Com um estilo que mescla mitologia, história e referências aos modelos clássicos, Camões retrata o espírito aventureiro dos portugueses e a grandiosidade da cultura lusitana.

“Os Lusíadas” é composto por 10 cantos e possui mais de 8.800 versos, todos decassílabos, organizados em oitavas rimas. A obra não só representa o espírito de descoberta e expansão da época, mas também exalta valores humanistas e racionalistas. Com a morte de Camões e a União das Coroas Ibéricas em 1580, o Classicismo em Portugal começou a perder força, sendo substituído por outros movimentos literários.

Classicismo no Brasil

O Classicismo chegou ao Brasil por meio da literatura e das práticas culturais dos colonizadores portugueses. Nesse contexto, é conhecido como Quinhentismo, um período que corresponde aos primeiros registros escritos no país, ainda no século XVI. As produções dessa época eram principalmente descritivas e focavam nas impressões dos colonizadores sobre a terra e o povo indígenas.

Embora não haja uma produção literária classicista expressiva como a de Portugal, as obras desse período revelam a influência do Classicismo nas crônicas e cartas que buscavam descrever o Brasil com uma visão de “novo paraíso”. Esses primeiros textos foram importantes para o desenvolvimento da literatura brasileira, que mais tarde incorporaria as influências europeias de forma mais crítica e autêntica.

Características do Quinhentismo no Brasil

  • Descritivismo: grande foco em descrever as paisagens, fauna, flora e povos nativos do Brasil;
  • Antropocentrismo e Humanismo: embora ainda prevaleça a visão europeia, alguns textos refletem o contato entre culturas e a tentativa de entender o “outro”;
  • Propósito Didático e Religioso: muitos textos eram produzidos por jesuítas que usavam a literatura como meio de catequizar os indígenas.

Um dos principais autores do Quinhentismo é Padre José de Anchieta, que escreveu em latim, português e tupi. Suas peças, poemas e cartas visavam não apenas converter os indígenas ao cristianismo, mas também documentar o cotidiano da colonização.

O Classicismo foi um movimento que renovou a forma de pensar e de criar arte, literatura e ciência. Inspirado pela Antiguidade Clássica e impulsionado pelo surgimento do humanismo e do racionalismo, esse movimento marcou a transição da Idade Média para a Idade Moderna e influenciou profundamente a cultura europeia, incluindo a portuguesa e, indiretamente, a brasileira. 

Autores como Francisco Sá de Miranda e Luís de Camões deixaram um legado que perdura até hoje, inspirando gerações com suas ideias de beleza, harmonia e valorização da razão.

Esse período não só marcou um novo estilo artístico e literário, mas também um novo jeito de pensar a condição humana. O Classicismo foi o ponto de partida para a valorização da individualidade e da ciência, conceitos que ainda hoje moldam a nossa visão de mundo.

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Questão sobre classicismo

(Questão FMABC 2022) Para responder a questão, leia o soneto de Luís de Camões.

Busque Amor novas artes, novo engenho[1],

Para matar-me, e novas esquivanças[3];

Que não pode tirar-me as esperanças,

Que mal me tirará o que eu não tenho.

 Olhai de que esperanças me mantenho!

Vede que perigosas seguranças!

Que não temo contrastes[3]

 nem mudanças,

Andando em bravo mar, perdido o lenho [4]

 Mas, conquanto não pode haver desgosto

Onde esperança falta, lá me esconde

Amor um mal, que mata e não se vê;

Que dias há[5]

 que na alma me tem posto

Um não sei quê, que nasce não sei onde,

Vem não sei como, e dói não sei por quê.

(Luís de Camões. Lírica, 1991.)

1 engenho: artimanha.

2 esquivanças: maus-tratos, desprezos.

3 contrastes: adversidades, contrariedades.

4 lenho: embarcação.

5 dias há: faz tempo.

No soneto, o eu lírico ressalta que o sentimento de desgosto pressupõe

a) desprezo. 

b) sofrimento.

c) esperança. 

d) amor.

e) indiferença.

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