Direitos Humanos e Redação do Enem: sua nota pode zerar?

A redação do Enem é, sem dúvida, um dos momentos de maior tensão para qualquer estudante. Valendo 1.000 pontos, ela tem um peso enorme na nota final e, com isso, surgem diversos medos. Um dos mais recorrentes é: “E se eu ferir os direitos humanos? Vou zerar a redação?”.

Se essa dúvida já passou pela sua cabeça, você está no lugar certo. Vamos esclarecer o que acontece, como funciona a avaliação e quais cuidados você precisa tomar para garantir uma nota excelente.

Desrespeitar os Direitos Humanos zera a Redação do Enem?

Até 2017, a regra era clara e severa: qualquer desrespeito aos direitos humanos resultava em nota zero na redação inteira. No entanto, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) mudou esse cenário.

Hoje, ferir os direitos humanos não zera mais a sua redação por completo. Mas, atenção: isso não significa que não há consequências. A penalidade foi realocada e ainda pode custar muito caro na sua pontuação.

A punição agora é referente a Competência 5

A correção da redação do Enem é dividida em cinco competências, cada uma valendo 200 pontos. A punição para o desrespeito aos direitos humanos agora está concentrada inteiramente na Competência 5.

O que diz a Competência 5? Ela avalia a capacidade do estudante de “elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos”.

Isso significa que o seu texto será lido e avaliado normalmente nas outras quatro competências. Contudo, se a sua proposta de intervenção — a solução para o problema apresentado no tema — violar os direitos humanos, você receberá nota zero especificamente nesta competência, perdendo 200 pontos preciosos.

Mas afinal, o que o Enem considera desrespeito aos Direitos Humanos?

Para não restar dúvidas, a própria Cartilha do Participante, divulgada pelo Inep, esclarece o que é considerado uma violação. Fique atento a ideias que defendam:

• Tortura, mutilação, execução sumária ou qualquer forma de “justiça com as próprias mãos”.
• Incitação a qualquer tipo de violência motivada por raça, etnia, gênero, credo, condição física, origem ou opinião política.
• Qualquer forma de discurso de ódio direcionado a grupos sociais específicos.

Essas diretrizes são baseadas em princípios fundamentais, como os da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que incluem a dignidade humana, a igualdade de direitos, a valorização da diversidade e a sustentabilidade socioambiental.

Exemplo Prático

Vamos imaginar um tema hipotético: “Os desafios da superexposição de crianças na internet”.

✔️ Proposta VÁLIDA (Respeita os Direitos Humanos):

• “Portanto, cabe ao Estado, por meio do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, intensificar a fiscalização de conteúdos que expõem menores de idade. Essa ação deve ocorrer por meio da criação de algoritmos e canais de denúncia mais eficazes, com o objetivo de proteger a imagem e a saúde mental de crianças e adolescentes.”

❌ Proposta INVÁLIDA (Fere os Direitos Humanos):

• “Portanto, para resolver o problema, os pais que expõem excessivamente seus filhos deveriam ser punidos com a perda da guarda e trabalhos forçados. Essa medida serviria para que aprendessem a lição e não cometessem mais esse erro.”

Percebe a diferença? A segunda proposta sugere uma punição cruel e desproporcional, ferindo o princípio da dignidade humana, o que levaria ao zero na Competência 5.

Outros erros que podem zerar sua proposta de intervenção

O desrespeito aos direitos humanos não é o único caminho para perder os 200 pontos da Competência 5. Também é importante ter atenção para não cometer os seguintes erros:

1. Ausência de proposta: simplesmente não apresentar uma solução para o problema discutido.
2. Cópia dos textos de apoio: transcrever trechos da proposta de intervenção dos textos motivadores.
3. Proposta sem relação com o tema: sugerir uma solução que não tem nada a ver com a discussão que você desenvolveu.

Além disso, propostas com agentes nulos (ex: “alguém deveria fazer algo”) ou ações vagas (ex: “medidas precisam ser tomadas”) também prejudicam muito a sua nota.

Cartilha de Redação do Enem 2025: alerta para os repertórios de bolso

A Cartilha de Redação do Enem 2025 trouxe um alerta importante que, embora relacionado à Competência 2, impacta a qualidade de todo o seu texto: o perigo dos “repertórios de bolso”.

O Inep define esse conceito como “referências prontas, memorizadas e frequentemente utilizadas […] de forma genérica e pouco aprofundada, sem uma conexão genuína com o tema proposto”.

Por que isso é um problema?

Usar uma citação ou uma teoria que não se encaixa de verdade no tema demonstra superficialidade. O avaliador percebe que o repertório foi inserido de forma forçada, o que prejudica sua nota na Competência 2 e enfraquece toda a sua argumentação.

Como evitar?

• Prefira repertórios específicos que realmente dialoguem com o tema.
• Mostre como a citação, o filme ou o livro que você usou se conecta de fato com seus argumentos.
• Demonstre domínio sobre a referência, e não apenas uma memorização superficial.

Escreva sua redação com consciência e respeito

Em resumo: ferir os direitos humanos não vai mais zerar sua redação inteira, mas o prejuízo de 200 pontos na Competência 5 pode ser devastador para sua média final.

A dica é sempre pensar em soluções pautadas pela empatia, pela cidadania e pelo respeito à dignidade de todos. Uma boa redação do Enem não testa apenas seu conhecimento da língua portuguesa, mas também sua capacidade de refletir sobre a sociedade de forma crítica e humana.

Bons estudos e uma excelente prova!