A literatura brasileira, rica e diversificada, oferece um panorama fascinante das transformações sociais e culturais que marcaram o país ao longo dos séculos. Autores icônicos como Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa, cada um em sua época, desenvolvendo para a construção desse legado literário. Portanto, neste artigo, exploraremos como esses grandes nomes da literatura brasileira ainda ecoam nos dias de hoje e exemplos de como costuma cair no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), fornecendo insights valiosos para os estudantes que se preparam para o Enem.
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Machado de Assis: o mestre das entrelinhas sociais na literatura
Machado de Assis é conhecido por sua habilidade em escavar as camadas mais profundas da sociedade oitocentista. Ele é tido como o maior nome da literatura nacional, escritor do realismo e romantismo. Obras como “Dom Casmurro”, “Quincas Borba” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas” lançam um olhar crítico sobre as convenções sociais, evidenciando a fragilidade das relações humanas.
Mestre da ironia e perspicácia, não apenas nos apresenta ou com uma narrativa envolvente, mas também com uma análise afiada das complexidades da natureza humana. Em “Dom Casmurro” ele desvenda as nuances dos relacionamentos, os desafios da busca por identidade e os jogos de poder. Por fim, um questionamento de todos os leitores de Machado de Assis: Capitu traiu ou não traiu Bentinho? 🤣
Questão 80781
ENEM 2° Dia 2014
Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário de meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguíam-no de avareza, e cuido que tinham razão; mas a avareza é apenas a exageração de uma virtude, e as virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco de maneiras, tinha inimigos que chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste particular era o de mandar com frequência escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais. A prova de que o Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas, o que não se coaduna muito com a reputação da avareza; verdade é que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora juiz) mandara-lhe tirar o retrato a óleo.
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.
Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira, Memórias póstumas de Brás Cubas condensa uma expressividade que caracterizaria o estilo machadiano: a ironia. Descrevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brás Cubas refina a percepção irônica ao
- acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se injustiçado na divisão da herança paterna.
- atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade com que Cotrim prendia e torturava os escravos.
- considerar os “sentimentos pios” demonstrados pelo personagem quando da perda da filha Sara.
- menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e membro remido de várias irmandades.
- insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo.
Carlos Drummond de Andrade: a poesia como testemunha da modernidade
Carlos Drummond de Andrade, por sua vez, é um poeta que capturou como poucas a essência da vida urbana e é um dos favoritos do Enem. Por outro lado, em poemas como “No Meio do Caminho” e “A Máquina do Mundo”, Drummond mergulha nas complexidades das relações humanas e nas incertezas do mundo moderno, oscilando entre a tragédia e a comédia.
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Poeta da segunda geração modernista, fala do cotidiano sem muitas delongas: de forma leve e direta. É impossível que alguém nunca tenha ouvido falar sobre uma pedra no caminho. Drummond, muito à frente do seu tempo, conseguiu viralizar antes mesmo da gente entender esse fenômeno. Dessa forma, ele caiu na graça do povo, mesmo que muita gente o cite sem saber o contexto. Muitos estudiosos entendem que o poema é uma crítica aos parnasianos, que neste caso, seriam as pedras.
Guimarães Rosa: A linguagem como fronteira da experiência humana
Escritor modernista com habilidade em mesclar o erudito e o popular. Antes de tudo, criou sua própria linguagem literária levando em consideração o regionalismo mineiro, termos em desuso, neologismos e construção sintática. João Guimarães Rosa, com sua prosa inovadora, explora o sertão e a cultura interiorana em obras como “Grande Sertão: Veredas” e “Sagarana”. Por exemplo, “Sagarana” é composta por nove contos que retratam a paisagem mineira e a vida rural dos criadores de gado.
Questão 6085416
ENEM 1° Dia 2021
A volta do marido pródigo
— Bom dia, seu Marrinha! Como passou de ontem?
— Bem. Já sabe, não é? Só ganha meio dia. […]
Lá além, Generoso cotuca Tercino:
— […] Vai em festa, dorme que-horas, e, quando chega, ainda é todo enfeitado e salamistrão!…
— Que é que hei de fazer, seu Marrinha… Amanheci com uma nevralgia… Fiquei com cisma de apanhar friagem…
— Hum…
— Mas o senhor vai ver como eu toco o meu serviço e ainda faço este povo trabalhar…
[…]
Pintão suou para desprender um pedrouço, e teve de pular para trás, para que a laje lhe não esmagasse um pé. Pragueja:— Quem não tem brio engorda!
— É… Esse sujeito só é isso, e mais isso… — opina Sidu.”.
— Também, tudo p’ra ele sai bom, e no fim dá certo… — diz Correia, suspirando e retomando o enxadão. — “P’ra uns, as vacas morrem … p’ra outros até boi pega a parir…”.
Seu Marra já concordou:— Está bem, seu Laio, por hoje, como foi por doença, eu aponto o dia todo. Que é a última vez!… E agora, deixa de conversa fiada e vai pegando a ferramental
ROSA, J. G. Sagarana, Rio de Janeiro: José Olympio, 1967
Esse texto tem importância singular como patrimônio linguístico para a preservação da cultura nacional devido
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- à menção a enfermidades que indicam falta de cuidado pessoal.
- à referência a profissões já extintas que caracterizam a vida no campo.
- aos nomes de personagens que acentuam aspectos de sua personalidade.
- ao emprego de ditados populares que resgatam memórias e saberes coletivos.
- às descrições de costumes regionais que desmistificam crenças e superstições.
Um legado vivo
Estudar autores como Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa não é apenas uma jornada literária, mas uma leitura das profundezas da experiência humana e social no Brasil. Suas obras transcendem o tempo, oferecendo um espelho para os desafios, complexidades e potenciais de nossa própria época.
Assim, ao incluí-los em sua preparação para o Enem, você não vai adquirir uma compreensão mais profunda da literatura, mas também terá uma reinterpretação do rico legado literário brasileiro. Além disso, estes e outros grandes nomes da literatura podem servir para enriquecer seu repertório para a redação do Enem. Acesse a plataforma da Estuda.com, filtre as principais questões de literatura brasileira que caem na prova anualmente e resolva-as.