A História do Brasil, ensinada nas escolas e retratada em livros didáticos, muitas vezes segue uma perspectiva eurocêntrica, que silencia ou reduz o papel dos povos originários na construção da identidade nacional.
No entanto, é cada vez mais urgente ampliar esse olhar e considerar as vozes que foram historicamente apagadas. Uma maneira de fazer isso é através da literatura indígena contemporânea.
Neste artigo, vamos entender melhor quem são os povos originários, como sua história tem sido contada (ou esquecida) e quais obras e autores você pode conhecer para ampliar seu repertório cultural e desenvolver um olhar mais crítico sobre o Brasil.
Conteúdo
- 1 Quem são os povos originários do Brasil?
- 2 O problema do apagamento histórico e a construção da narrativa oficial
- 3 Literatura indígena contemporânea: outra forma de narrar o Brasil
- 4 Por que ler autores indígenas?
- 5 Como trabalhar literatura indígena em sala de aula?
- 6 Que tal repensar a História do Brasil?
Quem são os povos originários do Brasil?
No Brasil, costumamos utilizar a expressão “povos indígenas” para nos referirmos aos diversos grupos que habitam o território muito antes da chegada dos colonizadores europeus. No entanto, outro termo também adequado e respeitoso é “povos originários”, pois reconhece sua ancestralidade e relação histórica com a terra.
Antes da colonização portuguesa, estima-se que existiam mais de 1.000 povos distintos no território brasileiro, com uma população entre 3 e 5 milhões de pessoas. Atualmente, segundo o Censo IBGE 2022, existem 305 povos indígenas no país, somando 1.693.535 pessoas e falantes de 274 línguas diferentes. Infelizmente, a comparação entre os dados revela o profundo impacto da dizimação promovida por séculos de exploração, violência e negação de direitos.”
O problema do apagamento histórico e a construção da narrativa oficial
A palavra “índio” foi criada por colonizadores que, ao chegarem às Américas, pensavam ter alcançado a Índia. Embora o termo tenha sido difundido, ele carrega um erro histórico e generaliza de forma preconceituosa a diversidade dos povos originários.
A história contada pela ótica do colonizador apresenta os indígenas como figuras do passado, como se não mais existissem. Essa visão reforça estereótipos e apaga a existência de comunidades que continuam resistindo, produzindo cultura, literatura e ciência.
Literatura indígena contemporânea: outra forma de narrar o Brasil
A literatura é uma poderosa ferramenta para recontar a história a partir da perspectiva dos povos originários. Autores indígenas vêm se destacando nas últimas décadas, oferecendo uma nova compreensão sobre o passado, o presente e o futuro desses povos.
A professora e pesquisadora Janice Cristine Thiél, especialista em literaturas indígenas brasileiras, doutora pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), destaca que a literatura indígena permite integrar disciplinas como história, língua portuguesa e sociologia, promovendo uma forma de educação que valoriza a diversidade e forma cidadãos mais críticos.
Recomendamos algumas leituras:
A terra dos mil povos — Kaka Werá Jecupé
Neste livro, o autor apresenta uma síntese cronológica da história indígena brasileira, mostrando como o Brasil já era habitado por uma imensa diversidade de povos antes de 1500. Ele discute temas como migrações forçadas, massacres, epidemias, resistências e leis que afetam os povos indígenas. A obra é fundamental para desconstruir a narrativa de que a história do Brasil começou com a chegada dos portugueses.
O banquete dos deuses — Daniel Munduruku
Daniel Munduruku propõe uma reflexão profunda sobre a origem da cultura brasileira, questionando o “descobrimento” e colocando os povos originários como guardiões da terra. A obra convida o leitor a pensar sobre o papel dos indígenas na formação da identidade nacional, e como suas culturas são centrais para compreendermos o Brasil de hoje.
Por que ler autores indígenas?
Ler literatura indígena é uma forma de combater o silenciamento histórico e cultural. É um ato de resistência e também de reconhecimento. Quando você inclui autores como Daniel Munduruku, Eliane Potiguara, Ailton Krenak e Kaka Werá em seu repertório, você amplia sua visão de mundo, desenvolve senso crítico e apoia a produção cultural brasileira em sua diversidade.
Como trabalhar literatura indígena em sala de aula?
- Promova debates sobre como a história dos povos indígenas é retratada na mídia e nos livros;
- Realize pesquisas sobre a diversidade linguística e cultural dos povos originários no Brasil;
- Proponha atividades criativas, como recontar eventos históricos sob a ótica de um personagem indígena;
- Incentive a criação de mapas mentais e linhas do tempo que valorizem a presença indígena antes e depois de 1500.
Que tal repensar a História do Brasil?
A literatura indígena é um convite para repensar o Brasil. Ela rompe com o silenciamento histórico e mostra que os povos originários não estão apenas no passado, mas vivem, produzem e transformam o país todos os dias. Ao incluir essas vozes em nosso aprendizado, ajudamos a construir uma sociedade mais justa, consciente e plural.