Redação Fuvest: como é, qual a estrutura e dicas

Pessoa escrevendo em um caderno, representando o processo de preparação e escrita da redação da Fuvest para o vestibular.

A Fuvest é responsável pelo vestibular da Universidade de São Paulo (USP), uma das mais prestigiadas instituições de ensino do país. Diferente do Enem, que abre portas para várias universidades, a Fuvest possui um processo seletivo próprio e bastante concorrido. 

Entre as etapas da seleção, a redação é cobrada durante a 2ª fase. A redação Fuvest avalia competências importantes, como a mobilização de conhecimento, a clareza na exposição das ideias e a adequação ao tema proposto.

O gênero textual requerido é o dissertativo-argumentativo, e, para obter uma boa nota, o estudante precisa demonstrar domínio na construção de uma introdução clara, desenvolvimento consistente e uma conclusão que sintetize bem o raciocínio. 

Veja tudo sobre a redação da Fuvest! 👇📝

Como é a redação da Fuvest?

A redação da Fuvest é dissertativo-argumentativa, ou seja, o candidato deve expor um ponto de vista e sustentá-lo com argumentos coerentes e bem estruturados. O objetivo é demonstrar capacidade de articulação de ideias, argumentação sólida e conhecimento do tema proposto. 

A redação é parte da segunda fase do vestibular e avalia três aspectos principais

  • desenvolvimento do tem;
  • coerência dos argumentos;
  • correção gramatical.

Introdução

A introdução é o primeiro contato do examinador com o seu texto, por isso é importante apresentar de forma clara o tema e a tese que será defendida. 

Também deve-se contextualizar o assunto e demonstrar domínio sobre o tema, utilizando repertório cultural ou histórico que enriqueça o argumento.

Desenvolvimento

No desenvolvimento, o candidato elabora seus argumentos, sustentando a tese apresentada na introdução. É importante organizar as ideias de forma coesa, com dados, exemplos e fatos que fundamentam as afirmações. 

Além disso, deve-se evitar contradições e manter a progressão lógica entre os parágrafos.

Conclusão 

A conclusão deve amarrar o raciocínio de maneira clara, reforçando os pontos discutidos no desenvolvimento. Dependendo da proposta, não é necessário apresentar uma intervenção para o problema, como acontece no Enem, mas é fundamental fechar o texto de maneira coerente e conclusiva.

Quantos parágrafos tem a redação?

A redação da Fuvest deve conter de 4 a 5 parágrafos, distribuídos em introdução, desenvolvimento e conclusão. O limite de linhas é 30, e o mínimo é de 20.

Precisa de título na redação da Fuvest?

A obrigatoriedade do título na redação da Fuvest pode variar de ano para ano. Em algumas edições, há uma linha destinada ao título, mas em outras, ele não é exigido. Um exemplo disso foi no vestibular da Fuvest 2024, que a obrigatoriedade do título não foi mencionada nas orientações do caderno da prova.

Por isso, é fundamental ler com atenção todas as instruções do caderno de prova e da proposta da redação para seguir as orientações específicas de cada edição.

Como a redação é avaliada?

A redação da Fuvest é avaliada com base em três competências principais

  • desenvolvimento do tema; 
  • coerência dos argumentos;
  • correção gramatical. 

O candidato deve mostrar que compreendeu o tema proposto e que consegue construir uma argumentação sólida, evitando a mera exposição de dados sem análise crítica. 

A coerência dos argumentos é outro ponto crucial, sendo verificada pela organização lógica das ideias e a correta articulação entre as palavras, frases e parágrafos com o uso de conectivos durante o texto. 

Por fim, a correção gramatical é fundamental, com o candidato sendo avaliado pela precisão na ortografia, morfologia, sintaxe e adequação vocabular.

Quanto vale a redação da fuvest? 

A redação da Fuvest tem um valor total de 50 pontos. Esses pontos são distribuídos entre as três competências avaliadas: desenvolvimento do tema, coerência dos argumentos e correção gramatical. 

Cada uma dessas competências recebe uma pontuação que varia de 1 a 5, atribuída de forma independente por dois corretores. Se houver discrepância maior que um ponto entre as notas dadas pelos avaliadores, uma terceira correção é feita, e a nota final será definida por essa terceira avaliação.

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Qual a diferença entre a redação do Enem e da Fuvest?

A principal diferença entre a redação do Enem e a da Fuvest está no formato e nas exigências de cada exame. Ambas pedem um texto dissertativo-argumentativo, mas, no Enem, é obrigatória a apresentação de uma proposta de intervenção social relacionada ao tema abordado. 

Já na Fuvest, essa proposta pode ou não ser necessária, dependendo do tema. Além disso, a redação do Enem avalia cinco competências, enquanto a da Fuvest avalia três: desenvolvimento do tema, coerência dos argumentos e correção gramatical. Outra distinção está nos temas. 

O Enem, geralmente, foca em questões sociais e políticas amplas, enquanto a Fuvest tende a trazer temas mais subjetivos e filosóficos, exigindo um maior repertório cultural e crítico dos candidatos.

O que zera a redação da Fuvest?

A redação da Fuvest pode ser zerada em algumas situações específicas. Os principais motivos para que isso aconteça são: 

  • fuga total ao tema proposto;
  • não seguir o gênero dissertativo-argumentativo;
  • entregar a redação em branco;
  • escrever um texto com menos de 20 linhas (número mínimo exigido);
  • inclusão de elementos alheios ao tema, como desenhos ou qualquer outro tipo de comunicação não verbal.

Outro ponto importante é que, se um corretor atribuir nota zero e outro atribuir uma nota diferente, o texto passará por uma terceira avaliação.

Temas das últimas redações do vestibular da Fuvest

Veja também quais foram os temas de redação das últimas edições da Fuvest:

  • 2024: Educação básica e formação profissional: entre a multitarefa e a reflexão
  • 2023: Refugiados ambientais e vulnerabilidade social
  • 2022: As diferentes faces do riso
  • 2021: O mundo contemporâneo está fora da ordem?
  • 2020: O papel da ciência no mundo contemporâneo
  • 2019: De que maneira o passado contribui para a compreensão do presente?
  • 2018: Devem existir limites para a arte?
  • 2017: O homem saiu de sua menoridade?
  • 2016: As utopias: indispensáveis, inúteis ou nocivas?
  • 2015: “Camarotização” da sociedade brasileira: a segregação das classes sociais e a democracia

Esses temas mostram a diversidade e o grau de complexidade das propostas da Fuvest, que frequentemente abordam questões filosóficas, sociais e culturais, exigindo uma análise crítica e uma boa argumentação dos candidatos.

Como fazer uma boa redação na Fuvest?

Para fazer uma boa redação na Fuvest, é essencial seguir algumas dicas que podem garantir uma alta pontuação. Primeiramente, é importante entender que a Fuvest valoriza a originalidade e a capacidade de argumentar de forma crítica e autoral. O tema proposto exige uma análise aprofundada, e o candidato deve evitar clichês e ideias comuns, buscando sempre um posicionamento que demonstre reflexão própria.

Uma boa estratégia é começar a prova pela redação, já que ela demanda grande concentração. Fazer um rascunho com a estrutura dos argumentos e, posteriormente, revisar o texto com distanciamento é fundamental para identificar erros. 

Além disso, a redação da Fuvest permite o uso de citações, desde que essas dialoguem com o tema. Referências a filósofos, pensadores e teóricos podem enriquecer a argumentação. 

Na introdução, é importante apresentar o tema logo nas primeiras linhas e já sinalizar o posicionamento. No desenvolvimento, os argumentos devem ser construídos de forma clara, com uma boa articulação entre os parágrafos. Já na conclusão, não é necessário apresentar uma proposta de intervenção, como no Enem, mas sim finalizar com uma reflexão sobre o tema.

Seguindo essas orientações e treinando regularmente, é possível fazer uma redação bem estruturada para alcançar uma boa nota na Fuvest.

Modelos de redação Fuvest 

Para você treinar para a prova da Fuvest e criar uma redação de qualidade para ser aprovado na USP, veja alguns modelos de redação dos vestibulares anteriores: 

Fuvest 2022: As diferentes faces do riso

Selecionamos a redação nota 50 de Julia Hamdan, estudante do curso de Medicina da USP. 

Último riso marginal

A associação do riso à alegria é universal, entretanto, existem faces do ato de rir ligada ao exercício de poder. O provérbio brasileiro “quem ri por último ri melhor” exemplifica uma dessas faces: a noção de que o “último riso” é o melhor, simboliza a vitória de um grupo social que ri em detrimento de outro, que se cala. Nesse sentido, sob a influência de conjunturas e contextos diferentes, o direito à risada pode representar o triunfo de setores marginalizados ou a vitória dos que buscam o controle e a apassivação de outros. Isso, paradoxalmente, sem deixar de ser um símbolo da felicidade (Eudaimonia), que, para Aristóteles deveria ser um objetivo coletivo.

Existe, na face do “riso dos opressores”, um sentido literal – o escárnio- e um sentido simbólico ligado à vitória da opressão. O primeiro é o ato de rir de alguém, de um grupo, ou de uma situação os banalizando. Um exemplo disso foi, em 2021, no Brasil, a circulação de vídeos ironizando as mortes por COVID 19, por meio de piadas e imitações da falta de ar, ocasionada pelo adoecimento, protagonizados por representantes do Governo Federal. Ações como essas resultam, através do riso maléfico, na manipulação social para menosprezar demandas importantes, envolvendo direitos humanos, a resolução da pandemia ou questões socioeconômicas. Nesse viés, o direcionamento do humor para temas sociais relevantes e urgentes a fim de deslegitimá-los intensifica, metaforicamente, a possibilidade de o “último riso” pertencer a grupos que associam discursos de ódio e intolerância ao humor.

Por outro lado, a resistência associada ao riso só é possível quando esse é protagonizado, em sua geração e vivência, por setores marginalizados das sociedades. Isso porque, há também o controle de sujeitos por meio da anestesia gerada ao rirmos: conhecidas como “políticas do pão e circo”, os investimentos em entretenimentos que distraem a população de pautas sociais, embora tenham em seu bojo algum “riso”, causam a apassivação dos sujeitos – risos inertes, sem ação social. Em contrapartida, a apropriação popular do lazer e do humor garantem a face de resistência do riso. Como exemplo dessa, têm-se os memes na Internet – os quais proporcionaram ao Brasil título de Fábrica de memes – e que o riso é gerado de forma crítica e a partir da inventividade popular que consegue, ainda que marginalizada ou silenciada, nutrir seus risos marginais.

Desse modo, embora haja diferentes faces do riso, o “último” deveria ser o marginal -da população para a população – que resiste aos escárnios. Assim, a Eudaimonia aristotélica pode ser alcançada através do humor popular.

Fuvest 2020: O papel da ciência no mundo contemporâneo

Veja a redação de Paolo Gripp Carreño, estudante do curso de Medicina na USP.

Cara ou coroa: o papel ambíguo da ciência no mundo contemporâneo

“Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”: tal ideia resume a teoria humanitista apregoada pelo filósofo Quincas Borba, da obra homônima de Machado de Assis. Conforme se apreende dessa fala, o personagem concebia a vida por meio da sua associação a um campo estratégico de luta, tal como representavam, metaforicamente, as duas tribos antagônicas em disputa pela sobrevivência. Destarte, o humanitismo, não por acaso, é frequentemente tido como uma sátira às correntes cientificistas típicas do século XIX e, em especial, ao darwinismo social defendido por Herbert Spencer, que previa a seleção natural dos indivíduos mais adaptados ao meio, de modo análogo ao proposto por Darwin na Biologia. Sob tal perspectiva, em um mundo cada vez mais globalizado, o acesso ao conhecimento e às tecnologias digitais, notadamente desigual, tem se tornado constante alvo de cobiça, norteando as relações de poder existentes e ressignificando o papel conferido à ciência no cenário contemporâneo.

Desde a Antiguidade, contudo, a razão tem sido objeto de discussão na Filosofia, sendo colocada, inclusive, como pilar principal da sociedade justa idealizada por Platão na célebre obra “A República”. Durante a Idade Média, por sua vez, a Igreja Católica exercia, de certa forma, um monopólio sobre o conhecimento, adequando-o à visão religiosa e utilizando-o como instrumento de dominação. Nesse sentido, o período medieval foi intitulado, pelos pensadores iluministas, de “Idade das Trevas”, expressão que se opunha àquela usada por eles para se referir ao século XVIII, o “Século das Luzes”. De modo alegórico, a mencionada antítese refletia o caráter que então se pretendia dar ao conhecimento cientifico, capaz de afugentar o breu da ignorância e, como uma lanterna, iluminar o caminho a ser seguido em direção ao aperfeiçoamento da sociedade, pensamento posteriormente reforçado pelo filósofo francês Auguste Comte. Em sua visão teleológica, o intelectual elaborou a Teoria dos Três Estágios, elencando a ciência como meio a partir do qual a humanidade poderia evoluir até atingir o Estágio Positivo ou Científico, que simbolizaria o máximo grau de desenvolvimento.

Sem embargo, a despeito dos discursos iluminista e positivista, o aprimoramento do conhecimento evidenciou outras contradições: a Revolução Industrial inaugurou novas relações de exploração; as Guerras Mundiais estimularam a criação de armamentos potencialmente destrutivos; a Guerra Fria tornou a ciência um campo, agora oficial, de disputa; e a globalização incentivou o surgimento de uma nova maneira de exclusão social, vinculada ao acesso desigual às tecnologias digitais. A partir disso, pode-se perceber a clara materialização da teoria desenvolvida pelos frankfurtianos Theodor Adorno e Max Horkheimer, responsáveis por analisar a denominada “razão instrumental”. Segundo eles, o conhecimento teria se tornado um importante instrumento de dominação, ampliando a capacidade de interferência do homem sobre a natureza, como corrobora a intensificação de problemas ambientais, e sobre o próprio homem, a exemplo do emprego de tecnologia nuclear como forma de dissuasão no contexto geopolítico mundial.

Desse modo, em virtude dos aspectos abordados, constata-se o papel ambíguo da ciência na realidade contemporânea, pois, paralelamente às facilidades de transporte, comunicação e entretenimento disponíveis atualmente, fica evidente que a instrumentalização da razão representa uma fonte propulsora das hodiernas relações de poder. Consequentemente, apesar de desafiador, o uso consciente e democrático da ciência é indispensável para rechaçar a situação de permanente guerra prevista pela teoria humanitista e consolidar o conhecimento como alicerce do tão almejado desenvolvimento, conforme sonhavam Platão e Comte.

Conclusão 

A redação da Fuvest é uma parte bastante desafiadora e decisiva do vestibular, exigindo dos candidatos uma argumentação, originalidade e um bom domínio da escrita. Portanto, entender a estrutura da dissertação, praticar com temas de anos anteriores e ter um repertório cultural amplo são passos fundamentais para se destacar. 

Com preparação adequada, você é capaz de construir um texto autoral e bem fundamentado, aumentando significativamente as chances de sucesso nesse processo seletivo tão concorrido.

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